Jefferson estava errado
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"A história nunca se repete, mas rima." (Mark Twain)
Em 1786, Thomas Jefferson era Embaixador dos Estados Unidos na França. Durante o mesmo período, a Revolução sa estava sendo planejada, com o seu apoio e assistência, e, por sua vez, a Inconfidência Mineira se desenrolava por essas terras. Considerando a Revolução Norte-Americana como um precedente para a tupiniquim e buscando o apoio dos americanos, alguns estudantes brasileiros redigiram cartas a Jefferson sobre a possibilidade da independência política do Brasil.
O futuro presidente dos Estados Unidos respondeu que não possuía autoridade para assumir um compromisso formal, mas ressaltou que uma revolução bem-sucedida no Brasil, evidentemente, "não seria desinteressante para os Estados Unidos, e a perspectiva de lucros poderia, talvez, atrair um certo número de pessoas para sua causa, enquanto motivos mais elevados atrairiam outras" (Thomas Jefferson, op. cit., p. 17).
O mais interessante, no entanto, não é isso, mas o que ele expressou em outra oportunidade. Embora estivesse completamente convencido de que os países da América Latina acabariam por repelir o domínio da Espanha e de Portugal, Thomas Jefferson demonstrou ser decididamente cético quanto à capacidade desses países de se autogovernarem.
É justamente nesse ponto que me detenho, cara pálida. Desde a minha infância, o Brasil tem enfrentado fraudes no INSS, crises econômicas, políticas e sociais e, ao se fazer uma retrospectiva, percebe-se que esses problemas não surgiram nas décadas de 1980 ou 1970, mas remontam a períodos muito anteriores, talvez desde a colonização portuguesa. Desde sempre, as campanhas políticas destacam em seus slogans a renovação do Brasil, o país do futuro, e em toda eleição é a mesmíssima coisa. Cadê esse futuro que nunca chega, meu senhor?
O que me parece, do alto de meus quarenta e poucos anos, é que mudam os protagonistas, mas os personagens permanecem os mesmos. Vale tudo. O enredo da novela é sempre o mesmo: crises internas, influenciadas ou não pelo mercado internacional; escândalos de corrupção; debates intensos e apaixonados nas Câmaras, no Senado, nas famílias e nas portas de botequins; além de políticas públicas ineficazes (para inglês ver). E é só.
É extremamente constrangedor refletir sobre esse pensamento, mas talvez… talvez ainda fôssemos, de certa forma, um tanto imaturos para caminhar por si mesmos. Ou não? Na realidade, mesmo sendo independentes, sempre estivemos de mãos dadas com alguém e até pedindo colo de vez em quando, embora a maioria da população não tenha percebido isso, deslumbrada com discursos eloquentes, promessas vazias, futebol, cerveja e Carnaval.
Contudo, parece que o brasileiro está tentando, a cada instante, convencer Jefferson (e também a si mesmo) de que ele estava equivocado. Apesar de tudo, somos fortes, resilientes, e sim, muitíssimos capazes. Ora bolas.
"Pouca saúde, muita saúva, os males do Brasil são", disse Macunaíma, não o Jefferson. Vá lá, talvez ele tivesse razão. De outras e tantas hipérboles que poderia ilustrar a máxima, na grata empresa de decifrar o país, Mário de Andrade decidiu pelo aforismo sumário para evitar que o livro se alongasse demais – a obra foi escrita em apenas seis dias. Com a máxima vênia ao ilustre colega, tenha ele razão ou não, o papel do brasileiro é sempre acreditar, ainda que isso lhe custe um rim; caindo aqui, levantando-se acolá, mas seguindo sempre em seu caminho como um cego teimoso.
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